Capítulo 10

                                                 "O destino vem até você se tentar fugir dele!"

Quando separei meus lábios dos de Mary eu não sabia o que esperar. Talvez um tapa na cara ou um nome feio eram previsíveis, mas eu torcia para estar errado.
Os olhos dela estavam ao mesmo tempo que assustados, via-se claramente que ela procurava uma resposta e só então eu percebi o quão ela já estava apavorada e tê-la beijado só deveria ter piorado mil vezes as coisas, com certeza a deixei mais confusa.
- Eu pensei que eu tomaria a atitude em nosso primeiro beijo. - ela disse em um tom tão bem humorado que uma onda de alívio invadiu todo meu corpo e eu suspirei.
- Você tá bem?

Ela me deu um sorriso meigo e tocou meu rosto, apesar de sua respiração ainda estar longe da tranquilidade.
- É claro que to bem, eu só... Preciso pensar.

Minha expressão deve ter se tornado um pouco tristonha porque eu estava sentindo uma angústia agonizante no peito, não queria prendê-la a uma coisa que era minha, a um mundo que era meu. Ela não precisava correr esse risco e eu a pus nele.
- Me perdoa. - encostei nossas testas, fechando os olhos - Eu prometo que vou te levar pra casa e segura, não queria te envolver em nada disso, eu sinto muito.

Me afastei um pouco e a olhei nos olhos por alguns instantes antes de sair do quarto, para deixá-la um pouco só.
Andei pelo corredor do hotel, sem muita certeza de para onde eu estava indo. Passei as mãos pelos cabelos, revendo todos os acontecimentos dos últimos quatro dias, como em apenas pouco tempo eu me senti confuso, apavorado, feliz, seguro e... Cansado.
Encontrei uma sacada no fim de um corredor que eu dobrei e me sentei no chão, encostado na grade, mal podia se ver as estrelas, pois pra qualquer lugar que olhássemos havia um lugar muito iluminado pra chamar a atenção do público e induzir turistas a gastar mais seu dinheiro, investindo na luxúria.
Levantei um pouco da minha camisa e constatei que Damara estava certa, me afastar fisicamente dela me faria melhorar, a prova disso era que o meu ferimento de antes que sangrava até me deixar tonto, agora não passava de um vermelho enorme em minha barriga. Suspirei, pensando em tudo outra vez.
Lembrei das vezes que usei meus poderes para benefício próprio e como isso parecia tão estúpido agora. Fechei os olhos. Eu só queria voltar pra casa...
- O sofá não é tão bom quanto o chão? - ouvi a voz de Lyam e abri os olhos imediatamente. Ele fumava um cigarro que trazia nos dedos e riu da minha reação.
- O que faz aqui? - perguntei.
- Eu acho que era eu quem deveria fazer essa pergunta, não? - se sentou ao meu lado no chão.

Balancei a cabeça, olhando pro nada.
- Não podemos ficar aqui pra sempre.
- Eu sei. - ele respondeu e soprou, a fumaça do cigarro não me fazia efeito, mas o cheiro ainda era horrível - Estou tentando contatar o rei de Soldin pra avisar que encontramos você para que ele envie uma nave e os leve daqui. Mas ele ainda não me respondeu.
- E como é isso?
- Isso o quê?
- Esse... Contato?
- Ah. - sorriu - Os meus equipamentos de viajante ainda servem pra alguma coisa.

Assenti e fiquei um momento em silêncio.
- Você não se lembra de nada mesmo? Nem de quem você é? - Lyam perguntou e eu o encarei.
- Não... É como se eu simplesmente tivesse caído de paraquedas no hospital há mais de 70 anos atrás.
- Nossa... Eles fizeram um bom trabalho então.
- Como assim?

Lyam suspirou.
- Acho que posso te contar um pouco do que aconteceu...
- Sério? Mas e o lance de... Sei lá, fritar meu cérebro? - ele riu.
- Não vai acontecer se eu ocultar algumas partes que podem ser demais pra você aguentar.
- Ah. Bom, então começa.
- Tudo bem. - ele respirou fundo - Como Damara deve ter te contado, nosso planeta foi dominado por rebeldes. E nisso tudo, você e sua esposa foram atacados...
- Espera. - interrompi - Minha... Esposa?
- Sim, quando um beloviano chega à fase adulta ele é designado para uma fêmea para que possa procriar e garantir a sobrevivência de vocês. Mas tem um porém.
- Qual?
- Sentimentos são evitados por viajantes por causa disso. Quando um casal de belovianos desenvolve sentimentos um pelo outro a proximidade pode ser fatal. Vocês perdem seus poderes, ficam tão fracos quanto humanos e qualquer um poderia te matar, você e sua esposa foram atacados e na briga, por já está próximo tempo o suficiente dela, eles conseguiram te enfraquecer num estalar de dedos. Te bateram tanto que seu crânio foi praticamente destruído. É por isso que não se lembra de nada.
- Sentimentos... Então quer dizer que Damara era minha... ?
- Não. - ele riu outra vez - Sua fraqueza perante a proximidade com ela vem de outra coisa, tão forte que se manter perto é capaz de te matar. Essa ferida na sua barriga não é nada comparado ao que ela pode fazer com você.
- E o que ela é pra mim?
- Seu ponto fraco, John. Em todos os sentidos. Vocês tiveram sorte que os belovianos que os encontraram pensaram que ela era uma viajante.

Isso não esclarecia muita coisa, mas já era um começo. Uma dor de cabeça estalou em mim, pus a mão na testa, apertando os olhos por um segundo e quando os abri, tive um flash de uma imagem. Como um sonho...
Duas mãos entrelaçadas. Um casal. Era eu e... Uma loira. Ela sorria pra mim e seus olhos eram mais azuis que o céu. Meu coração bateu forte, ela se parecia muito com Mary, será que era minha esposa?
- Você tá bem? - Lyam me balançou e eu voltei à realidade.
- To... Eu acho.

E aí???
Tá um p*** calor aqui, apesar de estar de madrugada e eu terminando esse capítulo mesmo tendo que acordar às 5:30 da manhã kkk
enfim, gostaram? Quais são seus palpites agora? Haha
Beijos
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