sexta-feira, 9 de maio de 2014

Capítulo 8


O meu pai havia me deixado brincar no vasto jardim do castelo ao entardecer. Quanto mais se afastava do castelo, mais fechada a mata se tornava. Mas era belo, muito belo. Flores se espalhavam ao redor e aqui, onde eu me encontrava, as árvores estavam um pouco afastadas umas das outras e pendurado em um galho havia um balanço. Sorri, correndo até ele e logo me sentei, impulsionando-o para trás e a gravidade levando-me para frente. E assim eu fiquei, brincando... Até ouvir um vulto correr atrás de mim. Olhei pra trás, procurando, mas não o achei, e então o vi passar outra vez, tão rápido quanto a luz. Meu coração começou a acelerar, nervosa, pois podia muito bem ser um invasor do exército inimigo ou um rebelde. A lógica era que se fosse amigável não precisaria se esconder, certo?
- Quem está aí? - perguntei, levantando. Em resposta eu ouvi uma risada reverberar pela floresta, um gelo desceu por minhas costas - Apareça, em nome do rei! - insisti.
Mas ninguém se pronunciou.
Dei alguns passos à frente, segurando o vestido longo para que não me fizesse tropeçar nos saltos. Pássaros cantavam, mas apesar da tranquilidade e passividade eu não estava nem perto disso. Outra vez o vulto passou, fazendo-me perceber que fora uma péssima ideia entrar na floresta. Comecei a correr de volta para o castelo, rezando para haver ao menos um guarda por perto ao qual eu pudesse pedir ajuda, mas o palácio parecia mais distante agora do que nunca fora. E antes que eu pudesse alcançá-lo, algo me levou ao chão.
Senti uma dor enorme no meu pescoço, mas não entendo o que a causou. Me encontrava deitada na grama da floresta, olhando os poucos raios solares que passavam por entre os galhos das árvores e eu pude ver o vermelho do sangue em minha mão ao tocar meu pescoço, antes de tudo se tornar escuro.

Me sentei subitamente na cama após um pesadelo. Passei a mão pela testa, sentindo-a completamente molhada pelo suor, minha garganta estava seca e o coração doendo pela velocidade com que batia no peito. Enquanto eu tratava de me acalmar olhei para o colár que eu ainda usava e ele brilhava em uma cor azul. Toquei-o, sem saber o que significava aquela luz. Passei as mãos pelos cabelos, decidindo que aquilo só poderia ser coisa da minha cabeça, mas o sonho... Parecia tão real que o medo de estar morta ainda assolava meus pensamentos.
Depois da aparição daquela mulher no show da noite anterior eu não consegui relaxar e dormir até as três da manhã, revirando na cama até o cansaço me vencer. Agora, de acordo com o relógio no criado mudo eram seis e trinta e sete da manhã de sábado. Ah, a minha cabeça doía tanto que eu apertei os olhos na tentativa de aliviar o infortúnio, sentindo-os marejar pelo sono.
Levantei da cama, sabendo que mesmo que tentasse eu não voltaria a dormir, primeiro pela dor de cabeça que não me permitia relaxar, e segundo porque o medo de voltar a sonhar com a mesma coisa fazia com que eu me forçasse a manter-me esperta.
Depois de uma hora e meia o comprimido para dor que eu havia tomado finalmente fez efeito e eu retornei a dormir, pois a exaustão era muito maior que qualquer susto
levado, sem contar que o dia já iluminava o quarto pelas frestas da janela e isso me acalmava. Diminuí a temperatura do ar condicionado e me enrosquei novamente
no cobertor de algodão. Horas mais tarde...
- Filha, tem alguém aí na porta querendo falar com você! - o tom que minha mãe usava era gentil e doce, o que me deixava com menos vontade ainda de dar atenção ao que ela dizia, mas fiz um esforço.
- Hum. - resmunguei, abrindo os olhos devagar e a focando à minha frente - Quem tá aí?
- Levanta. - ela ordenou, retirando meu cobertor aos poucos.
Bufei, jogando o restante do cobertor pelos ares. Caminhei até o banheiro e encarei meu reflexo no espelho. Uau, o meu cabelo estava em uma desordem descomunal, meus olhos estavam fundos e vermelhos e eu nem me dei o trabalho de abrir a boca, pois já imaginava o estado em meu hálito deveria se encontrar. Tomei um banho rápido, escovei os dentes, penteei o cabelo e pus o primeiro conjunto que achei, uma blusa larga preta e uma saia jeans, o colár escondido. Cruzei o quarto e o corredor do apartamento e tomei um susto ao perceber quem me esperava na porta.
Encostado na abertura Logan mexia no celular, provavelmente mandando uma mensagem pra alguém. Ele sorriu quando me viu e se ajeitou de pé, e apenas isso fez meu sangue pulsar mais rápido e um rubor preencher minhas bochechas.
- Oi, - ele disse quando me aproximei - você tá bem? Parece cansada.
- Eu to bem, só... Tive uma noite ruim. - ele assentiu.
- Me desculpe por não ter lembrado do seu aniversário ontem. - dei de ombros.
- Tá tudo bem, não poderia ter sido melhor.
Ele fez uma cara de como quem tá ofendido.
- Nossa, obrigado!
- Não, eu não quis... - ele riu, me interrompendo.
- Eu sei, to brincando. - revirei os olhos e ele me encarou com aquele olhar que me deixa nervosa. Idiota! - Quer dar uma volta comigo?
Levantei uma sobrancelha.
- Logan Relmont, me convidando pra sair? Você ainda vai me tratar do mesmo jeito amanhã? - ele sorriu leve, com a cabeça baixa de vergonha e sem mostrar os dentes. Se aproximou e segurou meu rosto com uma mão, aparentemente dividindo a atenção entre meus olhos e minha boca. Eu não estava muito diferente.
- Tem coragem pra arriscar? Prometo que seremos só você e eu.
Respirei fundo, considerando. Logan parecia um cara normal se você observar de longe, mas depois que se olha em seus olhos ao menos uma vez, se percebe que lá dentro se esconde algo muito pior. Não como a índole de um marginal, criminoso ou uma coisa do gênero. Mas muito pior, algo que me causava um gelo na espinha tão intenso que a consciência logo alertava para manter distância, porém eu não conseguia. Eu queria descobrir quem ele era, queria saber de tudo sobre ele e... Queria fazer parte disso.
- Eu devo estar ficando maluca. - pensei alto, só pra ver outro sorriso nascer em seus lábios.
A mamãe deixou que eu saísse com o Logan contando que levasse o celular, como sempre, mas a verdade era que minha mãe sentia pena de mim por eu não ser muito sociável, nem com os meus parentes. E a possibilidade de eu estar namorando a encantava.
- Tem certeza de que é aqui que quer ficar? Eu posso te levar ao cinema, ao shopping... - Logan disse quando parou seu carro na calçada da praia. Eu sorri pra ele do banco do carona - O Park está na cidade, não quer ir?
- Não. - eu ri - Esse é meu lugar preferido na cidade inteira. Amo tudo isso. - desci da carro e inspirei fundo a brisa do mar, agradecendo mentalmente mais uma vez por morar tão perto. O céu estava nublado, mas não tão fechado e o mar estava agitado, porém era ali que eu queria estar. Olhei novamente pra Logan que sorria, me observando.
Caminhávamos pela praia, lentamente, jogando conversa fora. Surpreendentemente eu estava gostando de tudo. Ele tentava me fazer sentir mais relaxada, rindo das minhas piadas e, como se soubesse do que eu acharia graça, contado palhaçadas.
- Como minha mãe deixou que você me chamasse pra sair? - perguntei finalmente, lembrando que ela repudiava a maioria dos alunos da LHS, com exceção de Alison.
- Eu disse que era de sua outra escola, que estava com saudades de você.
- Esperto. - admiti e ele riu.
- Não tem medo que chova a qualquer momento?
- É só água. - dei de ombros.
Ele olhou pra mim, com a cabeça baixa.
- Você não parece muito à vontade comigo.
Eu concordei, olhando pros meus pés e cruzando os braços.
- É que... Faz tempo que eu não me permito a isso.
- A quê?
- Sair um pouco com outra pessoa além da Ali. - forcei um sorriso - Eu estava namorando quando fui transferida para LHS, mas ele me traiu depois de uma semana. - cocei a nuca, envergonhada por contar isso. Pensei ter visto uma faísca de raiva nascer nos olhos de Logan - Mas tá tudo bem, isso... Já faz muito tempo.
Ele ficou calmo, me olhou e pôs um braço sobre meus ombros, me puxando pra perto.
- Acredite em mim quando digo que, se eu quisesse apenas te magoar, nem me aproximaria de você. - beijou minha testa com delicadeza. Aquele ato foi tão carinhoso que qualquer impressão negativa que eu tive do Logan sumira.


Tá uma bosta, eu sei! kkkk Beijos ~*

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