Capítulo 6 - Intimidado na escola, intimidador fora dela

Eddie me esperava na porta da escola com seu carro, mas eu não queria aguentar aquele olhar vazio de novo, então fugi pela porta do ginásio que dava no estacionamento. Corri pela avenida principal até chegar na praia. Talvez fosse arriscado demais, mas eu só queria um tempo sozinha.

De dia tudo ali parecia acolhedor, mesmo com o tempo sempre nublado, os bares abriam, pessoas passeavam, se exercitavam e caminhavam com seus cachorros. Eu só me sentei na calçada e fiquei observando as ondas violentas de inverno no mar. Permaneci assim por um tempo, evitando pensar em como minha vida tava uma droga, até que ouvi risadas vindas de duas vozes diferentes ali perto. Me escondi atrás de duas rochas altas e fiquei assistindo.

Era Joseph, brincava com um menino na mesa de uma lanchonete com cartas de baralho, os dois riam, mas aquele menino não parecia ser parente dele ou algo do gênero, usava trapos velhos e rasgados e devorava o pedaço de bolo ao seu lado com pressa. Cheguei mais perto, tentando ouvir melhor, mas meu celular tocou, alto demais e eu me afastei, assustada, pra atender. Era Eddie.

— Hale, cadê você?

— Não se preocupa, ok? To sozinha dessa vez e daqui a vinte minutos chego em casa, prometo.

Claro que não esperei ele responder e desliguei depressa. Mas já era tarde de qualquer jeito, quando me virei pra lanchonete outra vez, Joseph e o garoto estavam atrás de mim, encarando confusos.

— O que tá fazendo? – Joseph quis saber.

— Ah... Eu tava passando e vi vocês conversando. Fiquei interessada, só isso.  – respondi e ele ergueu uma sobrancelha, surpreso com minha resposta. Ele sabia assumir uma postura intimidadora quando não tava na escola, com a estatura alta, mãos nos bolsos e olhar sério, mesmo debaixo dos óculos.

— Ela é aquela garota que você vai ensinar, Joe?

— É sim, Natan.

— Ela é bonita.

Ri com isso e estreitei os olhos, encarando-o.

— Espera, é você que vai me ensinar?

— Sim, a professora não te falou?

— Não, ela só disse que ia escolher um nerd e que eu saberia quem é quando aparecesse na biblioteca amanhã.

Ele deu de ombros.

— Talvez tivesse pensado que, depois de hoje, você se relutaria mais em aceitar as aulas se soubesse que seria comigo.

— Como sabe que não aceitei de primeira?

— Fala sério. – ele riu ironicamente e eu não sabia se tava mais surpresa com a segurança daquele nerd ou o fato dele usar gíria.

— E contou tudo pro seu amiguinho? – apontei pro moleque que observava a conversa atentamente.

— Eu não tenho segredos com o Natan. – ele se ajoelhou pra ficar na altura do garoto. – Conto tudo pra ele. – os dois riram e ele olhou pra mim de novo, agora com a expressão um pouco mais leve – Natan é de uma família simples que mora perto, os pais dele não tem condições de botá-lo numa escola, então eu me ofereci pra ensinar. Acabamos nos tornando melhores amigos.

— Hum. - sorri de canto – Você é quase um santo. Parabéns, não há muitas pessoas dispostas a essas coisas hoje em dia.

— Alguém tem que estar. – ele se levantou novamente.

— Foi um prazer te conhecer, Natan. – comecei, colocando o celular na bolsa – mas eu tenho que ir agora.

— Espera - Natan pediu -, você pode lanchar com a gente também, se quiser, não é, Joe?

Joseph, ou Joe, sei lá, me olhou. Algo naqueles olhos azuis me intrigava bastante, como a curiosidade que bate ao se dar de frente com um segredo novo, a vontade de desvendar. Uma coisa ficou clara naquele momento, pelo menos: ele não era o estereótipo de nerd, com certeza.

— É, pode ser. – ele disse por fim.

— Valeu, mas eu realmente tenho que ir.

Chegando em casa eu ouvi mais broncas dos meus pais, fiquei trancada pelo resto do dia e nem usar internet eu iria poder, mas, por alguma razão, a lembrança dos olhos dele era o que mais rondava os meus pensamentos. Saber que teria mais no dia seguinte me causava algo que beirava ansiedade na boca do estômago. Um leve conforto que eu não sentia há muito tempo, talvez porque... Me lembrava a alegria nos olhos de Dallas.

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