quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Capítulo 7 - Sou louca, mas não injusta.


Algumas semanas se passaram, eu continuava de castigo, sendo escoltada de casa da escola e da escola pra casa. Trace já tinha saído da cadeia e queria me arrastar pra próxima merda, mas dessa vez eu achei melhor dar um tempo de tudo. Joe me ensinava quase todos os dias na biblioteca, mas sempre se escondendo, ele não queria tornar o caso público tanto quanto eu, mas de qualquer forma ele teve de conhecer meus pais, como prova de que dizia a verdade sobre estudar. De vez em quando eu tinha curiosidade e perguntava mais sobre a família dele e como era ser rico, mas ele sempre desviava do assunto ou simplesmente não respondia, assim como eu quando ele rebatia ao perguntar sobre Dianna.
- Essa foi a última questão. – falei, fechando o caderno, um sorriso involuntário me invadiu. 

Aquela havia sido a tarefa mais fácil nos últimos dois meses e Joe não tivera tanta dificuldade em me fazer entender tudo como da primeira tarde. Ele tinha paciência, tenho que admitir, respirava fundo e fechava os olhos a cada comentário estúpido meu e se empenhou pra que eu pegasse toda a matéria. Normalmente eu faria de tudo pra que ele desistisse, mas de uma maneira bem estranha a companhia dele me fazia ficar mais relaxada. Podia dizer que era o timbre da voz, mas apostava naquele olhar...
- Sim, acabamos. – ele sorriu, satisfeito.

Não pensei muito sobre o que estava prestes a dizer, só sabia que queria que aquela sensação boa continuasse por um pouco mais de tempo.
- Dianna fez uns biscoitos que me obrigou a trazer. Ela cozinha mal e eu não queria me envenenar sozinha, quer um pouco? – ele riu e eu fiquei esperando a resposta, mas ele só olhava vagamente pros materiais na mesa, sorrindo leve – Mas vou entender se não quiser, deve ser duro aguentar tanta burrice por duas horas quase todos os dias.
- Seria bom. – finalmente respondeu, levantando os olhos pra mim.

Curvei-me pra pegar a vasilha na bolsa, no pé da minha cadeira, pus alguns biscoitos na tampa e empurrei pra ele na mesa, deixando apenas poucos no pote pra mim. Mordi um pedaço de um e Joe fez o mesmo.
- Hum, vou morrer feliz, pelo menos. – ele elogiou – Sua mãe cozinha bem.
- Ela não é minha mãe...
- Você já disse isso. – então ficou um silêncio desconfortável, mas logo foi quebrado – Eu sei a receita desses biscoitos e posso te ensinar, se você quiser.

Um sorriso brotou no meu olhar vazio.
- Seria bom. – ele sorriu de volta.

Eram sete da noite, a biblioteca estava iluminada, mas o lado de fora ganhou um aspecto diferente. Joseph se ofereceu para me levar de carro até a casa dele, mas eu disse que faríamos isso na minha casa. Dianna podia estar lá, mas pelo menos ela já sabia como eu era, ao invés de um riquinho que eu sabia que me olharia torto, perguntando-se de que buraco eu saí.
Fomos ao estacionamento quando vimos dois caras da escola vindo em nossa direção. Eles encararam Joe na hora, como uma criança que achou o brinquedo que tanto queria na vitrine, o mesmo parecia desejar com todas as suas forças que jamais tivesse escolhido essa hora pra sair da biblioteca.
- Ei, olha o que achamos aqui. – um deles começou, os dois logo assumindo uma postura para nos barrar a passagem.
- Como se não fosse típico o nerd na biblioteca, Steve. – o outro respondeu.
- To falando desses dois juntinhos agora a essa hora.
- E o que é que tem? – eu quis saber.

O primeiro se aproximou de mim lentamente, endurecendo a expressão e faria questão de visualizar minha alma, se pudesse.
- Trace é nosso amigo, sua piranha. Aposto como ele vai adorar saber que a garota dele tá saindo com o playboyzinho dos Adams.
- Não sou a garota do Trace, nunca fui.

Os dois riram ironicamente e olharam para Joseph.
- E você? Acha que só porque é rico, pode ficar com a garota dos outros?

Joseph não respondeu.
- Nerd... Vamos te ensinar uma coisa pra você nunca esquecer.
- Ei, espera! – me coloquei entre Joseph e o idiota prestes a avançar com um soco.
- Sai da frente, Hale. – ordenou o que apenas assistia.
- Não! Vão em frente, batam nele, batam em mim. A família Adams e o próprio Trace vão adorar torrar cada pedaço de vocês no inferno. – mantive meu olhar firme na direção dos dois, enquanto eles consideravam meus argumentos.
- Trace vai ficar sabendo disso. – avisou, por último, saindo.
- Idiotas. – sussurrei, respirando aliviada e me virei pra Joseph que me observava com um olhar estranho – O que é?
- Nada. – ele sorriu – Obrigado.
- Não foi nada. Ainda quer fazer biscoitos?
- Claro.

Joe ficou na minha casa até umas 22 horas, os biscoitos ainda sobraram bastante. Fiquei tão imersa naquela coisa simples e boba que nem vi o tempo passar, ou me toquei que era uma coisa simples e boba. Até Dianna estava parecendo suportável, enquanto comia alguns e nos encarava com aquele olhar insinuativo. Eu sabia que, não só ela, Eddie também fazia gosto da minha recém parceria, talvez amizade, com Joseph. Mas eu também me conhecia. Por mais que meu passado tivesse coberto por cicatrizes, nenhuma delas justificava todas as merdas que eu fiz. Sei que já me afundei demais na lama pra merecer alguém como ele em minha vida, alguém que se importa com os outros, puro e íntegro. Joe não teria que se preocupar comigo, jamais.

2 comentários:

  1. Hey
    Não sei muito bem o que dizer sobre esse final, só sei que gostei. Foi simples, mas profundo, não sei explicar direito.
    Esperando o próximo

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    1. kkk essa foi a intenção, obrigada :)
      Mais tarde tá saindo ^^

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 renata massa