quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Capítulo 11 - Vamos manter esse amor nas fotografias



Fiquei observando o teto do meu quarto quando acordei, a janela ficava à esquerda, enquanto que a porta era à frente, mas um pouco à direita e estava fechada. Ainda bem, eu queria aproveitar aquela sensação por mais alguns instantes. Pela primeira vez o frio cálido da manhã era reconfortante, aquela luz fraca, nublada, porém serena de alguma forma parecia diferente. Deitada na cama eu fiquei olhando, e acabei por sorrir, feliz, sim, estava feliz.
Levantei-me, olhando ao redor. Tava tudo uma verdadeira bagunça, como sempre, mas, pela primeira vez aquilo me incomodou, então eu resolvi dar um jeito. Eddie me comprou um notebook recentemente, recompensando pelas boas notas e bom comportamento. O aparelho ficava na mesinha de escritório perto da janela, junto com um monte de livros e folhas pra estudar, tudo revirado. Decidi começar por ali e, ainda de pijama, prendi o cabelo, que já estava no meio das costas, num coque alto e comecei empilhar as folhas, organizando as que não eram mais necessárias pra jogar no lixo e as que ainda serviam pra pôr entre os livros e guardar nas gavetas, deixando apenas os que precisaria para as próximas aulas.
Andei pelo quarto, catando roupas espalhadas que eu julguei estarem sujas o suficiente para não serem misturadas com as limpas da cômoda, então pus tudo no cesto de roupa suja. O piso da casa era de madeira e como a janela tava quase sempre fechada com folhas de vidro eu não vi necessidade de varrer, só recolhi o restante dos objetos espalhados e arrumei minha cama.
Mas no meio de tudo, entre a cômoda e um dos pés da cama, encontrei. Ali, jogada, perdida há muito tempo, uma câmera fotográfica antiga. Dallas e eu tirávamos muitas fotos quando pequenas, registrávamos cada uma das vezes que saíamos juntas, ou até mesmo em casa. Se ainda estivesse viva, minha irmã mais velha teria 24 anos. Sentia muita falta dela, mas me surpreendi ao perceber que as lembranças não me causavam mais tanta dor, e sim aqueciam o meu coração, como uma recordação bonita na parede que eu pretendia guardar eternamente. Sentia-me mal por ter pensado em odiá-la no início, pois tudo o que Dianna fez, no final, foi por sua morte, mas não era culpa dela, sei que se estivesse aqui, ela me defenderia.
Por causa de toda a dor que lembrar de Dallas me causava naqueles tempos, eu reuni todas as fotos que tiramos em uma caixinha só e escondi em algum lugar, mas não lembrava onde. Aí um estalo me ocorreu quando a imagem vaga da tal caixa passou pela minha cabeça, eu tinha acabado de vê-la.
Atravessei o quarto e abri a última gaveta da cômoda e lá estava: uma caixinha retangular feita de madeira, cada listra com uma cor diferente dando um ar alegre. Retirei a tampa, revelando um número de fotografias por volta dos quarenta, todas minhas, da Dallas, dos nossos pais ou dos lugares onde fomos juntas. Deu saudade, ao ponto até de querer retroceder a esses dias só para revivê-los.
Peguei um pano grande da mesma cômoda, junto com um rolo de fita adesiva. Cortei vários pedacinhos e pendurei nas pontas de cada dedo, deixando apenas os polegares e indicadores para ajudar a prender o pano na parede, no espaço vago acima da cabeceira da minha cama. Depois de preso, peguei as fotografias e fiz a mesma coisa, dobrando os pedacinhos de fita atrás delas para prendê-las no pano. Então, quando o trabalho ficou pronto eu me afastei pra ver o resultado.
Era quase como um caleidoscópio, várias cores diferentes se unindo sem perder sua individualidade, vários momentos preciosos, cheios de vida... Vida! Era esse o sentimento que emanava no meu peito agora e há tempos não sentia pulsar, vida. Sorri comigo mesma, feliz.
Alguém bateu na porta do quarto.
- Filha, tá acordada? Já passa da hora do café, sua mãe fez biscoitos. – era Eddie. Saí da cama e abri, sorrindo, o que pareceu surpreendê-lo – Bom dia, moça.
- Tava revirando as minhas coisas e achei umas fotos, nem lembrava mais do quanto eram bonitas.

Eddie entrou junto comigo e viu a colagem na parede. Seus olhos se arregalaram e eu os vi ficarem vermelhos, lacrimejando. Ele chegou mais perto devagar, sua mão trêmula querendo tocar as fotos, receoso como se pudesse quebra-las.
- Ela era tão linda... – ele parou em uma das fotos, uma que Dallas tirava uma selfie sozinha, o sol brilhava atrás dela enquanto o vento jogava seus cabelos pra frente. Foi um daqueles momentos espontâneos, de animação, ela nem se importou com o resultado para dizer a verdade, apenas tirou. E esse era o toque especial, esse brilho no olhar e sorriso dela que ficaram eternizados naquele simples pedaço de papel.
- Vocês duas são. – ele continuou, virando-se para mim e voltou para onde eu estava - Filha... Essas fotos, quase todas foram você quem tirou, certo?

Eu assenti.
- Dallas até tentava tomar da minha mão a máquina algumas vezes, mas eu nunca deixava. – ri, relembrando. Amava o fato de que cada foto tinha seu toque especial, que podiam congelar o momento no tempo, mesmo que saíssem desfocadas ou sem o jeito que queríamos.
- Você levava jeito. – Joe disse, entrando no quarto de repente e assustando todo mundo – Desculpe, Senhor Dale, sua mulher disse que eu podia subir.
- Devia pedir desculpas pra mim, você entrou no meu quarto. – protestei e ele riu, beijando o topo da minha cabeça e me abraçando pelos ombros.
- Tem razão, desculpa. Você nunca me disse que tinha uma irmã.
- Ela morreu há muitos anos, eu era muito pequena. – expliquei.
- Sinto muito. – ele disse e eu sorri levemente, assentindo. Não queria mais que aquele drama se perpetuasse desnecessariamente.

Joe olhou pro meu pai, que nos observava e disse:
- Senhor Dale...
- Eddie, por favor. – meu pai interrompeu.
- Eddie. – Joe repetiu, sorrindo – Gostaria de lhe pedir permissão pra namorar a sua filha, oficialmente.

Ergui as sobrancelhas e arregalei os olhos. Por essa eu não esperava. Meu pai apenas nos encarou e riu, principalmente da minha expressão.
- Não sou tão lento pra não perceber que tinha alguma coisa acontecendo entre vocês. E fico muito lisonjeado de você ter se dado o trabalho de vir pedir minha benção, é o primeiro namorado da Hale que faz isso. – eu revirei os olhos – É claro que eu aprovo. Você faz bem à minha filha.
- Tudo o que eu quero é que ela seja feliz. – Joe apertou a mão do Eddie.
- Então vamos nos dar muito bem.

Sim, era dia de semana, mas Joseph quis me levar pra sair mesmo assim, disse que merecíamos um dia de folga e ninguém discordou. Resolvi levar a velha câmera fotográfica junto e durante todo o passeio fiquei tirando fotografias por onde passava, colando as melhores junto das antigas, na parede. E isso acabou virando uma mania, todas as vezes que saía, sozinha ou com Joseph, levava a câmera junto e treinava, até passei a ver técnicas na internet, aperfeiçoando o meu olhar.
As coisas ao redor passaram a ter um aspecto mais agradável, praticamente quase tudo passou a ser interessante. Eddie ria enquanto eu tirava fotos dele comendo e, me observando olhar as fotos reveladas, disse:
- Você tá mesmo gostando disso.
- Nem pensava no quanto as coisas pudessem parecer tão bonitas se olhadas por uma lente.

Dianna sorriu, se sentando na mesa também.
- Você leva jeito.

Daí eu lembrei de uma coisa, me abaixei, pegando uma foto dentro da bolsa e entreguei pra Dianna. Ela franziu o cenho, mas pegou, olhando e logo depois pôs a mão na boca, as lágrimas brotando imediatamente por causa da imagem da Dallas sorrindo com o beijo da mãe na bochecha retratada naquele pequeno pedaço de papel.
- Filha...
- Achei que ela iria querer que isso ficasse com você. – dei de ombros.
- Muito obrigada. – ela tocou minha mão, agradecendo.

Eddie observava tudo em silêncio, mas sabia que estava se sentindo muito bem. Então a voz dele me alertou.
- Acho que devia levar isso a sério.
- Como assim? - perguntei.
- Fotografia. Você leva jeito, podia começar a estudar sobre isso.
- Mas já to fazendo, pesquiso técnicas na internet o tempo todo.
- Hum... – ele se endireitou, virando-se completamente para mim – Então que tal isso? Vou pagar um curso de fotografia à distância, daí vai receber instruções de um profissional, talvez receber um certificado e se continuar gostando, pode até seguir carreira.
- Tá falando sério?
- Claro.

Abri o maior sorriso que consegui.

- To dentro.

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