Eu não derramei uma lágrima quando vi os olhos
magoados de Joe ao me ouviu dizer que ele não era bom para mim, não o fiz
quando dei as costas e saí pelo estacionamento sem ele, nem mesmo quando
cheguei em casa e meus pais ficaram se perguntando o porquê do meu silêncio e
expressão perdida. Mas sozinha, trancada no quarto, sem ninguém a observar, pus
tudo pra fora tão violentamente que quase engasguei com minha própria angústia
e frustração. O perdi, tinha certeza disso!
Passei o restante das horas no quarto, soluçando
naquele dia, sem ao menos abrir a porta ou responder quando Eddie batia
preocupado, ou Dianna o fazia, querendo que eu comesse algo. Não queria nada, tinha
direito à reclusão, pelo menos, naquela hora...
Foi um verdadeiro desafio encarar a presença de Joseph
todos os dias, as lembranças de minhas palavras duras escancaradas em seu
olhar, tinha inventado todos os tipos de mentiras possíveis para fazê-lo
acreditar que nosso relacionamento havia acabado, e agora tinha de manter a
feição firme, se quisesse que ele não tivesse esperanças ao cogitar em me
procurar. Eu sabia, no âmago, que não resistiria se ele o fizesse.
Agora, dois meses depois, as coisas não facilitaram
nada, porém, já havia me acostumado com aquela sensação, então, fingir se
tornara quase natural pra mim. Fingir pros meus pais que estava tudo bem,
continuar com meu curso à distância e tirar fotos, até mesmo continuar com boas
notas, pois dispensei Joe até como o meu professor particular. Enfim,
continuar lutando e persistindo. Joseph pode ter sido a minha grande força pra
levantar depois de toda a tragédia que aconteceu em minha vida, mas ele também
me mostrou que não era o meu único motivo pra continuar a sorrir, eu tinha
muito mais agora, por causa dele, só que não iria parar por aqui, mesmo com
esse grande vazio no peito.
Não deixei nem mesmo de visitar Natan. O menino contou
que ele e o amigo continuavam com as aulas, que sentia falta de nós três saindo
juntos, nem que fosse pra tomar só um sorvete, mas que percebia também que
Joseph sentia muito mais falta disso, que “tinha uma ausência de luz forte nos
olhos dele”, assim como havia nos meus. Engraçado, e ele é só uma criança...
Colava as novas fotos na parede do meu quarto, algumas
junto de Natan, quando Eddie entrou.
- Ei, garota caipira.
Ri, olhando rapidamente pra ele, quase cuspindo uma
das fotos que prendia com os lábios. Fazia muito tempo que meu pai não me
chamava assim.
- A garota caipira ficou em Dallas, Eddie.
- É, mas eu ainda sinto ela aí.
- Não acredito que ainda se lembra da fazenda. –
prendi outra foto na parede, libertando alguns dedos pra colocar um pedaço de
fita atrás da fotografia que prendia na boca.
- Claro que lembro. Moramos lá, eu e sua mãe, antes de
você nascer, Dallas era só um bebezinho.
- Eu sei, você já contou essa história umas mil vezes.
Se mudaram, você conheceu pessoas, conseguiu erguer uma empresa enorme e blá
blá blá.
- Chata. – acusou.
- Molenga. - retruquei. Meu pai nunca me vencia numa
corrida de cavalos quando íamos visitar a velha fazenda dos meus avós em
Dallas, no Texas. Ele pôs a língua pra fora e eu ri.
- Quem é esse menino? – Eddie apontou para Natan.
- Ah, é um amiguinho de Joseph. Ele não pode pagar uma
escola, então recebe aulas grátis com o nerd. É uma graça, muito esperto pra
idade.
- Sente falta dele, né, filha?
- Acabei de vir da casa dele, pai. – respondi,
brincando, mas ele me encarou sério. Bufei – Já fazem dois meses. Acho que...
Mesmo se eu tentasse, não restaria mais nada. – não consegui evitar que meus
olhos lacrimejassem naquele momento – Eu o magoei, pai.
- Oh, minha querida. – ele me tomou nos braços,
acalentando como uma criancinha e só naquele momento percebi o quanto precisava
desesperadamente daquilo – Você o ama? – apenas balancei a cabeça, confirmando,
o rosto contra seu peito – Então lute, filha. Luta por tudo o que te fizer
feliz. Se trouxer o mínimo que seja dessa alegria que eu vi em você durante o
tempo que esteve com ele, já vai valer a pena. Acredite em mim, quando digo
que, o amor é algo precioso, poucos são os sortudos que encontrarão e mais
ainda aqueles que conseguirão reconhecer quando o fizerem.
Sim, meu pai é um grande homem. E se eu não tivesse
sido tão estúpida durante todos esses anos, teria buscado conselhos com ele há
mais tempo. Claro que disse aquilo na pura inocência, pois não sabia o que de
fato tinha acontecido, mas, talvez ele tivesse razão. Joseph faria 18 anos dali
a alguns dias, não é? Mesmo que a mãe dele me obrigue a ficar longe, ela não
poderá obriga-lo a se casar.
Esse fio de esperança me fez sorrir rapidamente
enquanto eu tirava mais fotografias na praia mais tarde, no mesmo dia. Era
estranho como eu ainda não tinha pensado nisso, mas também não me permitia
iludir, nem tudo era tão simples.
Sentei-me na calçada, tentando pegar melhor o cenário,
as linhas de composição e a luz que, naquele dia em particular, tinha um tom
mais colorido. As nuvens formavam linhas rosas e azuis por entre as cinzas,
talvez porque já estivesse anoitecendo. Estrelas estavam fora de cogitação, mas
pelo menos tínhamos esse espetáculo.
E então algo que não eram nuvens, nem rochas, areia ou
ondas estavam compondo aquele cenário nas minhas fotografias. Eram duas pessoas, de
mãos dadas, um casal conversando como grandes amigos, passeando naturalmente.
Engoli em seco pouco antes do cara perceber minha presença e olhar de volta,
sua expressão fechou de imediato, algo beirando a culpa parecia domina-lo
naquele momento e todo o fio de esperança que um dia eu tive? Se esvaiu na
mesma hora como um balde de água fria.
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