Como pude ser tão idiota de acreditar que isso não
aconteceria? Que ele estaria lá, esperando por mim como um verdadeiro príncipe
encantado. Isso não existe, e se existisse, com certeza não aconteceria comigo.
Então tudo bem, que ele seja feliz com sua nova parceira, que ela seja tão boa
pra ele quanto ele merece. Só não esperava que fosse a Elie. Falei com ela
durante todo esse tempo na escola e aquela ruiva nem sequer se deu ao trabalho
de contar, deve ter achado, com razão, que eu ficaria chateada. Mas eles
pareciam felizes na praia... Espero que estejam.
Não demorou muitos dias pra chegar o aniversário de
Joseph.
A cidade toda ficou sabendo do grande evento que
aconteceria na mansão dos Adams, aproveitando também pra anunciar o noivado dele com a Elie. Não sei o que deu em mim nesse dia, só sabia que precisava ver
de perto mais uma vez, saber se ele realmente estava gostando dela, ou, mais
precisamente, se estava mentindo pra mim. Naquela noite o som da música de
festa da mansão podia ser ouvida ruas antes, pedi pro táxi parar na porta e
respirei fundo, sem me importar com meu jeans rasgado, cabelo num coque e
casaco desajeitado, completamente contrastante com os trajes usados por todos
os convidados. Um homem usando terno preto e um fone no ouvido segurava uma
prancheta, pedindo os nomes das pessoas que entravam.
- Qual o seu nome? – me perguntou.
- Halery Dale. – respondi – E não estou na lista, então
se poupe.
- Sinto muito, mas não pode entrar.
Reprimi os lábios, suspirando.
- Ok. – dei meia volta. Não ia insistir pra entrar
nessa festa, não mesmo.
- Hale! – olhei pra trás ao ouvir a voz de Joseph. Ele
veio em minha direção, passando pelo portão – Hey, eu... Não sabia que você
viria.
Nossa, eu sabia que ele estaria bem arrumado pra
festa, mas ele estava simplesmente maravilhoso. Minha voz vacilou quando falei,
devido às palpitações no peito.
- Pois é, vim prestigiar o lindo casal e dar os
parabéns. – forcei um sorriso – Você parecia muito feliz outro dia, só não
esperava que fosse a Elie.
- Os pais dela querem fazer uma convergência com a
empresa dos meus pais. – explicou.
- Legal.
- Hale, eu...
- Poupa sua saliva, Joe. – interrompi – Não precisa me
explicar nada. Nós terminamos, lembra?
- Eu lembro.
Balancei a cabeça e me virei, pretendendo ir embora,
só que, de novo, o som da voz dele me fez parar.
- Por que veio aqui? – soou suave, melancólico... Magoado.
- Eu já disse, vim só desejar felicidades a vocês.
- Qual é, Hale? – ele revirou os olhos e chegou bem
mais perto, talvez aproveitando a chance que tinha com a entrada da casa quase
vazia. Seu rosto próximo do meu, ele repetiu outra vez, mais suavemente ainda –
Por que veio aqui?
Engoli em seco.
- Não conseguia lidar com a ideia de você gostando de
outra pessoa. – as palavras saíram sem eu nem sequer avalia-las ou perceber que
estavam saindo.
- Mas por quê? Você disse que eu não servia pra você,
você quem quis terminar.
- Eu sei, mas é que...
- É que o quê?
Inspirei profundamente.
- Nada. Eu não devia ter vindo. – pela terceira vez eu
tentei ir embora, mas, pela terceira vez ele impediu, puxando meu braço.
- Ela é incrível, sabia? A Elie. É uma garota incrível.
- Então todo mundo sai ganhando. – dei de ombros –
Feliz aniversário.
- Não é hoje.
- O quê?
- Meu aniversário não é hoje. Foi há uns dias atrás, a
minha mãe quem resolveu comemorar tudo em uma festa só.
- Ah... – Se ele pretendia atiçar minha raiva com aquela afirmação, conseguiu. Não pude mais manter a pose
completamente e falei parte do que eu pensava naquele momento, sentindo o peito inflar – Então muito
bem, idiota. Seja feliz passando o resto da sua vida abrindo mão das coisas que
você realmente quer pra agradar as outras pessoas.
Fiz uma reverência irônica e fui embora, finalmente.
Horas se transformaram em dias, semanas e nada mudava,
o noivado continuava de pé, e isso só aumentou minha raiva.
Senti os olhos marejarem enquanto almoçava no
refeitório da escola, mas logo tomei fôlego pra recolher tudo quando uma das
garotas catequistas, das quais eu nunca soube dos nomes, chegou.
- Oi, Hale, tudo bem?
- Sai fora.
- Só estou sendo simpática, esperava o mesmo de você.
– ela se sentou na mesa do refeitório, ao meu lado. Não no banco, na mesa.
- O que você quer? – encarei-a, elevando o rosto sem paciência nenhuma.
- Só conversar um pouquinho. – ergui uma sobrancelha. Ela tava bêbada?! – Seu amiguinho, o Joe, deve ter te dado um belo fora pra
casar com uma mais rica, né? Isso deve ter doído.
- Olha só, eu to me segurando pra não descer a mão
nessa sua cara enfeitada, então, pro seu próprio bem. Vaza! – apontei pro lado,
mas isso só fez ela rir mais ainda.
Outros caras chegaram, prováveis amigos dela. Um negão
de olhos castanhos, junto com um ruivo. Os dois se aproximaram demais, com
sorrisos maliciosos.
- Qual é, Hale? A gente sabe o que você fazia nas
festas na cidade que você morava, qual era mesmo o nome?
- Me deixem em paz...
- Vai lá. – o ruivo disse, ligando um aparelho de som
que começou a ressoar uma batida agitada por todo o refeitório.
- Aposto que seu ex nem vai se importar enquanto tá
aos beijos com a noiva dele. – a catequista disse.
- Dança pra gente, gata. – o negão pediu, sua mão
acariciou minhas costas, ele chegou mais perto e sussurrou no meu ouvido – Eu.
Te. Desafio.
Respirei fundo, me apoiando na mesa pra usar o banco de degrau e ficar de pé na mesa, recebendo aplausos imediatos do trio maluco. Os olhares de todos se voltaram para mim quando comecei a rebolar, a guria bêbada tentando me acompanhar, meio desajeitada ao lado. Eu descia e subia a todo momento, meu quadril mole, parecia uma parte fora, apenas pendurada por um fio ou coisa semelhante. Os garotos subiram com a gente, acariciando nossos corpos e, de repente, eu não tava nem aí, queria que ele tirasse minha roupa ali mesmo e me quebrasse inteira, só pra sensação me fazer esquecer da dor que eu sentia. Seria um breve alívio.
Mas quando percebi que quem eu queria esquecer estava
nos observando, permiti que o cara me beijasse quando tentou, afirmando de vez
minha fama de puta pra escola inteira. Quase fomos pegos pelo diretor, mas no
fim, apenas desligamos tudo e cada um foi pro seu lado. Eu queria ferir Joe, mostrar que estava bem, só que a única que saiu machucada fui eu.
Chegando em casa, ao ver minha mãe ali, parada,
percebi que qualquer rancor que ainda restava dela havia ido embora. Ela era
minha mãe e cometeu muitos, muitos erros, mas não era desculpa para nada do que
fiz, nada do que me tornei. Corri desesperada até ela e a abracei. Mesmo em
choque ela me recebeu, chorando junto comigo, completamente surpresa.
- Eu te amo, mãe. Eu te amo, muito!
- Eu também te amo, eu também te amo. – ela acariciava
meu cabelo, beijando minha cabeça sem parar.
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