Uma brisa morna entrou pela janela, balançando as
cortinas floridas do quarto. Nossa, me sentia uma menininha naquele cômodo. Um
retrato da minha mãe pousava do outro lado, em cima de uma cômoda com espelhos.
Antes das rugas, da tinta preta no cabelo e os cortes, Dianna parecia doce,
inocente. O brilho do sorriso, bochechas rosadas, tranças, uma
beleza única. Por um momento, desejei ser bonita como ela e isso era estranho,
pensar em como algumas circunstâncias podem te fazer enxergar uma pessoa por
uma forma completamente diferente.
Optei por usar camisa quadriculada, blusa branca por
baixo, calça jeans e rabo de cavalo, grata por poder vestir roupas leves outra
vez. Descendo as escadas senti cheiro de coockies e apressei o passo, ouvindo
duas vozes familiares conversando na cozinha.
- Coma à vontade, meu filho, um homenzarrão como você
precisa de muita comida pra continuar firme e forte. – era vovó Genevive. A
risada de Joseph ressoou como resposta.
- Bom dia. – anunciei minha chegada. Ambos sorriram
pra mim. A mesa era de madeira, larga, feita para várias pessoas. Havia um vaso
fino e simples, contendo apenas alguns lírios. Vovó tirava mais coockies do
forno, com gotas de chocolate, os mesmos que ela sempre fazia para mim e minha
falecida irmã no inverno, enquanto contava histórias. Os mesmos que Dianna
tentara copiar e nunca conseguira, os mesmos que Joseph um dia dissera que
sabia.
Joseph ajeitou os óculos sobre o nariz.
- Bom dia, caipira.
- Vovó sempre fez esses coockies para Dallas e eu
quando éramos crianças, Dianna tentava fazer do mesmo jeito e nunca conseguiu.
– sentei ao seu lado e mordi um.
- Se vier mais aqui, faço quantos você quiser, querida.
- A senhora enfeitiça todo mundo sua comida. Aposto que é
por sua causa que eles vem morar aqui. Cuidado. – avisei Joseph que riu.
- Ora essa, besteira.
Olhei ao redor.
- Cadê o meu pai?
- Saiu com seu avô pra buscar os preparativos do
funeral mais tarde.
- Ah, sim.
Nesse momento, minha mão encostou acidentalmente no
braço de Joe. Não foi somente eu que senti aquela eletricidade, certeza, pois
ele enviou um olhar rápido de tensão, constrangimento. Cocei a testa,
incomodada. É, havia desejo, muito, mas não era o momento e nem
lugar pra algo acontecer, não com Eddie do jeito que estava.
Então por que diabos eu chamei ele pra vir comigo? Não
era justamente pra tentar conversar? E agora eu o estava evitando. Muito maduro.
- Preciso falar com você. – sussurrei. Ele avaliou
minha expressão, como se decidisse de deveria ir ou não.
- Tudo bem.
O levei para o estábulo do vô Léo, onde ele mesmo
escovava um garanhão. Peguei um e levei Joe de carona até as
árvores mais afastadas da fazenda. As desastrosas tentativas dele de se
posicionar corretamente no cavalo me distraíram ao ponto de eu esquecer a
sensação que suas mãos no meu corpo causavam. Ou quase.
Não havia muito mais o que ver além de onde paramos,
apenas a fazenda do vizinho e mais grama e árvore, juntamente com o céu azul e
o sol, era quase como ver uma pintura hiper realista. Era um rochedo alto, na
verdade. Prendi as rédeas do cavalo num tronco de árvore e nos sentamos ao lado da mesma.
- É uma vista e tanto. – Joseph comentou.
- É... Dá uma saudade de quando eu era criança. Minha
inocência tornava tudo mais bonito, é como se tivesse perdido isso. – sorri para
ele – Obrigada por me fazer lembrar.
Ele sorriu de volta e se aproximou, retirando parte da
minha camiseta, despindo meu ombro direito. Espalhou beijos breves pela área,
subindo até o meu pescoço e maxilar. Suspirei, fechando os olhos.
- Sinto a sua falta. – sussurrou no meu ouvido. Sua
voz, seu cheiro e proximidade me impediram de ter qualquer reação. Sentia-me
uma virgem, pela primeira vez seduzida. Ele continuou com os carinhos, soltando
meus cabelos, adentrando seus dedos entre as raízes, massageando minha nuca.
A outra mão me segurou pela cintura, deitando-me
devagar sobre a grama e ficando sobre mim. Logo sua boca alcançou a minha, um
beijo calmo, ao mesmo tempo contendo toda a pressão que a saudade permitia.
Acariciei seu pescoço com uma mão e o puxei pra mais perto com a outra, uma de
suas pernas ficando entre as minhas. Os beijos dele desceram outra vez por meu
pescoço, mordiscando, causando arrepios. Sabia onde aquilo iria parar e não era
hora e muito menos lugar.
A consciência retornou como um beliscão e eu quase me
condenei por isso.
- Joseph? – chamei, seu olhar confuso encontrou o meu
– Agora não.
- O quê? Não está bom?
- Não é hora disso ainda, minha mãe vai ser enterrada
hoje.
Assentindo, ele se sentou novamente, e eu o
acompanhei, pousando minha cabeça em seu ombro, abraçando-o.
- Muito obrigada por ter vindo.
- Tudo bem... – a sua voz saiu carregada de frustração,
com uma pitada de irritação. Não, não queria usá-lo, mas a culpa não me
permitia ir além.
As três palavrinhas vieram até a ponta da língua, mas
desceram novamente, alguma coisa prendendo-me no fundo da garganta. Fechei os
olhos, tinha que me segurar, pelo menos por mais um pouco, sentia que iria
enlouquecer se não o fizesse. E não era pela morte da minha mãe, de alguma
forma estava em paz quanto a isso, como se soubesse que ela havia encontrado
paz. Não, apostava muito mais que o motivo real era a dor de luto de meu pai. Tinha medo do que ela causaria nele, se algum dia se recuperaria.
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