quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Esmeralda - Capítulo 1

Era um dia bonito quando Esmeralda saiu para fazer as compras matinais da casa para sua mãe na feira. Ela sorriu e cumprimentou a todos, como de costume, todos sorriram de volta. Ela era o tipo de moça que possuía uma doçura nata, olhar inocente e gentileza ajudavam a ganhar a simpatia do povo da vila. Mas também haviam os festejos. As pessoas adoravam vê-la dançar e ela o fazia com prazer, e nesses festejos Esmeralda não deixava que as inseguranças da vida apagassem a alegria que ela sentia em fazer tudo aquilo, em ajudar, como o seu pai. E, ela tinha que confessar, gostava de ser admirada.
A mãe de Esmeralda conhecera seu pai em uma visita que ciganos apareceram no reino, e não resistira ao charme do moço que era sim, muito afeiçoado na época. Depois que esse envolvimento deu frutos, a vida a três não foi tão fácil, pois ele estava acostumado a viver sem regras, apenas sobrevivendo e ela percebera que não seria tão simples com uma filha para cuidar. Mas amava tanto sua mulher que abandonou a vida de aventuras para ficar ao lado dela e permanecer na vila, entre os aldeões, onde ganhara a simpatia de todos, não por sua beleza, mas por sua generosidade e gentileza. Era um senhor muito querido, Esmeralda herdara tudo isso.
Voltou para casa depois de comprar tudo o que sua mãe pedira e a encontrou impaciente, como de costume, limpando os móveis da casa.
Era uma senhora com certa idade, quase tão velha quanto o marido e, dada sua criação, só queria que sua única filha tivesse um futuro melhor do que o que ela teve. Mas ela sabia que a mãe não se arrependia de ter caído nos encantos de um cigano como seu pai. E por tudo isso jamais questionava as escolhas que fizera para seu futuro, de casá-la com um moço rico.
A senhora avaliou os produtos nas bolsas e não disse nada, dando a entender a Esmeralda que ela tinha feito tudo certo. A menina pôs as mãos na mesa, apoiando-se e se pegou pensando na noite anterior. Enquanto dançava, um rapaz a observava atento, de longe.
Até aí tudo normal, mas o estranho foi que ela correspondeu. Alguma coisa no olhar daquele moço a fez dedicar os últimos rodopios que dera a ele e talvez por isso seu pai a tirou rapidamente dali, deve ter percebido, apesar de não ter dito nada no caminho de volta. Não importava, jamais o veria novamente.
- Pensando em quê, meu anjo? - seu pai chegou de repente, interrompendo seus pensamentos.
- Nada, meu pai. - sorriu.
- Bem, preciso que me ajude com algumas peças novas que encomendaram. Venha.

E o acompanhou até a marcenaria onde ele trabalhava. Era um estabelecimento próprio, porém simples, que construíra através dos anos. Ele construía peças e móveis em todos os estilos, era um homem habilidoso, mas seus favoritos sempre foram os bandolins. Gostava de dedilhar as cordas do instrumento e cantar desde novo. Era o que lhe lembrava a família, e parecia acalmá-lo em momentos de tormenta. Esmeralda adorava ouví-lo.
Passou as mãos pelos móveis e ferramentas, observando, esperando que lhe desse uma ordem.
- Já pensou em voltar a viajar pelo mundo, pai? - deixou escapar.

O senhor parou de juntar suas ferramentas e observou o olhar da filha que encarava a porta da marcenaria aberta, mostrando o céu num incrível azul e a grama verdejante se estendendo até as pequenas casas da vila ao longe.
- Todo dia penso.
- E por que não faz isso? Quer dizer, não sente falta? - sorriu - A mamãe talvez iria gostar.
- E você não?

Esmeralda encarou seu pai e suspirou, olhando o chão. Ele se aproximou e ergueu seu rosto, transmitindo conforto pelos olhos.
- Minha linda filha, será que pegou o espírito livre de seu pai? - disse e ela riu.
- Talvez.

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