Haviam muitos festejos naquela vila, os aldeões gostavam de ao menos se reunir em volta de uma fogueira uma vez na semana. Esmeralda ia a quase todos com o pai, para ele era uma honra aos velhos tempos como cigano. Para ela, uma amostra grátis da vida e liberdade.
Passou seu dia ajudando a enfeitar as casas com flores de papel e confeites coloridos, brincando com as crianças enquanto deixava tudo mais bonito para o que haveria à noite. E quando o sol começasse a se pôr ela só precisaria descansar um pouco e se preparar para o que haveria a seguir, mas, entre uma flor e outra nas paredes, uma figura surgiu ao seu lado. Usando simples vestes de camponês surradas, com cabelos cacheados e escuros e dono de belos olhos azuis como a noite, o moço da fogueira, e que estivera na sua casa dias antes, apareceu.
Notando o claro espanto da moça, Luciano desacelerou os passos, se aproximando devagar, sorrindo, tirou a boina para cumprimentá-la adequadamente.
- Boa noite, senhorita. Meu nome é Luciano Benacci, é um imenso prazer conhecê-la... Finalmente.
- És o moço que... Me observava dançar.
- Sim... - sorriu mais uma vez, tímido.
Ela não sabia muito bem o que dizer, o que saberia sobre rapazes? Sua mãe, na promessa de casá-la com um homem rico jamais a ensinara nada sobre romances, ou cortejos. Se é que isto era um cortejo.
- Esmeralda D' Anniballe. Muito prazer. - sorriu levemente, oferecendo a mão, que ele aceitou, pousando um leve beijo.
- Tem belos olhos, senhorita. Vejo o porquê de tal nome.
- Obrigada. - seu rosto se avermelhou imediatamente, enquanto ela sorria.
Nenhum dos dois sabia o que dizer a seguir, nenhum dos dois queria estragar o que quer que seja prestes a começar, mas não bastasse isso, as pessoas ao redor começaram a reparar. Uma moça solteira falando com um homem que não fosse familiar naquele tempo não era bem visto.
- Se puder, me encontre mais tarde no bosque, perto do riacho, quando o festejo acabar. - ele disse, e havia animação em seus olhos - Estarei à sua espera. Boa noite, senhorita. - se curvou outra vez e se retirou, deixando-a com seus pensamentos.
Esmeralda mal podia aguentar o frio intenso na barriga. Mas conseguiu aproveitar as alegrias da noite mesmo assim, todos estavam tão belos e sorridentes, que nem viram problemas em ela gastar toda sua energia dançando sem parar, dissipando a ansiedade fora do corpo.
Quando começaram a retirar os enfeites, a exaustão chegando, ela se lembrou do encontro que havia marcado, como um grande estalo na mente. Olhou ao redor, procurando seu pai e sua mãe, vendo que ambos estavam distraídos, deu breves passos para trás, atenta para que ninguém notasse seus movimentos, escondendo as mãos às costas enquanto se afastava devagar. Vendo-se distante o suficiente, começou a correr para o bosque, que não ficava longe.
Chegando lá, vendo o quanto o ambiente estava escuro, começou a perceber como aquilo era perigoso, ainda mais para uma jovem sozinha. Mas respirou fundo e continuou procurando por Luciano. Viu uma silhueta masculina sentada só, à beira do riacho, que começava a ganhar tons violetas com o amanhecer se aproximando. Ela deu alguns passos à frente, receosa.
- Olá.
Luciano, ao virar-se, mal podia acreditar que era mesmo ela que estava ali, ou estava ficando louco de vez. Mas não pôde deixar de sorrir.
- Você veio. - ele se levantou e foi ao seu encontro.
- Eu não sei se deveria... Meus pais...
- Não irão gostar, eu sei. Mas fico feliz que o tenha feito mesmo assim.
Outro minuto de silêncio em que ninguém tinha ideia do que dizer, o que era estranho para ele, tão acostumado a encantar jovens e belas moças por aí. Esmeralda não era como as outras, mesmo que houvesse malícia oculta, ele não conseguia se sentir da mesma maneira com ela, possuía essa inocência e delicadeza no olhar, despertando seu instinto protetor. Ele não queria desfrutar dela, queria cuidá-la, protegê-la.
- Seu pai é muito bom no que faz. - disse, finalmente quebrando o silêncio - Ele me ajudou muito com algumas peças da minha casa.
- Ele é, realmente. Me ensinou muito do que sabe, e hoje o ajudo na marcenaria.
- Você trabalha com ele?
- Sim.
Ele assentiu, sem saber bem como continuar, olhou ao redor.
- Já veio por aqui antes? - perguntou, vendo ela sorrir timidamente.
- Nunca, meu pai diz que não é seguro.
- E ele tem certa razão.
Ao longe Esmeralda viu um grupo de flores coloridas, próximas ao riacho e algumas árvores, e se aproximou.
- Tão lindas, minha mãe adorar podar. - sentou-se ao lado, tocando algumas pétalas.
- São mesmo. - ele fez o mesmo, olhando-a. Quando esta percebeu, ruborizou o rosto.
- Por que me olhas assim?
- Você é... - com as pontas de seus dedos ele tocou o rosto dela, puxando o delicado queixo para si.
O beijo que se seguiu não teve pressa, nem fome. Apenas aconteceu. Ele sentia os lábios dela com toda paciência do mundo, como se qualquer movimento brusco fosse quebrá-la inteiramente. Ela sentia aquela maciez molhada, um pouco estranha até. A intimidade do ato a deixava sem saber como agir, como corresponder. Mas ela gostou, deixando-o levá-la lentamente, envolvê-la, coração dos dois bombeando essa energia nova.
Ninguém queria parar, ele puxou a cintura dela, posicionando-os de joelhos, as mãos acariciando-a devagar. Ela permanecia quase parada, sem saber como retribuir e nem se queria que parasse.
- Esmeralda!
- Filha!
Eram seus pais, ela se separou de Luciano rapidamente, respirando aos ofegos.
- Eu preciso ir, agora. - disse, tentando se levantar, mas ele puxou seu pulso.
- Quando vou te ver outra vez?
- Sabe onde me encontrar. - sorriu, deixando um último beijo, para correr a plenos pulmões de volta para a vila, torcendo que seus pais não notassem a mudança no interior da filha.
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