O dia seguinte amanheceu tão lindo, do tipo que dava um prazer a mais em estar vivo. Olhando o sol entrar pelas cortinas do quarto, Esmeralda ficou pensando em como era bom se sentir assim, essa felicidade que mal cabia no peito. Como era bom estar amando, ou pelo menos era isso o que pensava ser.
- Bom dia, passarinho. - Ricardo disse para a filha que já preparava a primeira refeição do dia - Acordou disposta hoje?
- Sim. - respondeu sorrindo.
- Algo diferente?
- Não, só que eu estou... - deixou um suspiro escapar.
- Feliz?
- É... - deu um belo sorriso ao seu pai que devolveu. Ela terminou o café e, enquanto juntava os objetos à mesa, ponderou pedir um conselho. Queria tanto dividir o que sentia com alguém, explodir de felicidade ao menos um instante. E se perguntasse com o foco em outra coisa, talvez? - Pai, como foi quando o senhor e a mamãe... Se apaixonaram?
- Bem, essa é realmente uma história interessante... - respondeu, fazendo careta de incômodo enquanto se sentava na cadeira de balanço no canto da cozinha. Só naquele momento Esmeralda reparou no enorme cobertor que ele trazia consigo, cobrindo-o quase completamente, deixando apenas a cabeça de fora.
- Pai, está tudo bem?
- Sim, só preciso de uma boa xícara de café.
- Claro.
Enquanto ela preparava o pedido de seu pai, o mesmo começava a sentir que as pontadas em seu peito estavam piorando. Ricardo deu uma última observada em sua filha, era o maior tesouro que tinha. Então aconteceu, o peito doeu outra vez, ele tentou aguentar, mas a fisgada foi forte demais e levou seu corpo desmaiado ao chão.
Esmeralda deixou a xícara cair e quebrar com café no chão, gritou alto, correndo até seu pai desacordado.
- Pai, por favor... Por favor, pai, acorda.
Isabela, ouvindo tudo de seu quarto correu para ver o que havia acontecido. Ficou com o corpo do marido, ordenando à filha que chamasse por ajuda. Ela foi até o médico da vila, que fez tudo o que pôde, mas nada adiantou, Ricardo havia falecido.
Inconsoladas, mãe e filha ficaram dias de luto trancadas dentro de casa. Nenhuma das duas sentia ânimo para nada, contudo, os mantimentos da casa estavam acabando, e haviam os impostos. Ricardo era quem cuidava de tudo, e agora com sua ida, algo precisava ser feito.
Depois do quinto dia, no crepúsculo, Isabela encarava os belos olhos de sua filha à pouca luz, herdados do marido.
- Tem os olhos dele... Ele... Nós te amamos tanto...
- Também amo vocês... Mãe, o que vamos fazer agora? O papai me ensinou os negócios dele, mas não posso tocar, não como ele fazia e não sozinha.
Sua mãe respirou fundo, sabendo que estaria desrespeitando o desejo do falecido marido.
- Sinto muito, Esmeralda, mas você vai ter de se casar.
Um aperto no peito surgiu dentro da menina que, só naquele momento parou para se perguntar: onde estava Luciano?
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